segunda-feira, 16 de abril de 2012

Um museu de grandes novidades.

Texto excelente do Professor Agostinho Miranda. Parabens.

Havia um tempo em que no Acará o povo só acreditava em estrangeiro para nos governar. Acaraense não servia. Acaraense era tapado. Ainda tinha aqueles que quando pegavam o poder era só para fazer quitinetes em Belém, comprar fazendas, e fazer distribuição de botijão de gás no secretariado da educação... Uns pagavam pra não entrar na política suja daqueles velhos tempos; outros pagavam para não sair daquela lama toda. Que povo mais contraditório...

 Sabendo disso, descia-se levas de belemenses, maranhenses, cearenses, mirienses, abaetetubenses, mojuenses, concordianos, tomeaçuenses... Todos querendo uma chance ao sol da Terra da Cabanagem. Na incessante busca pelo poder eles se uniam com todo tipo de hordas: golpistas, salteadores, bajuladores e toda sorte de saltimbancos... Prometiam, mentiam, agiotavam. Tudo valia no banquete do poder. Inimigos, antes mortais, se beijavam; comadres, antes insuportáveis, se amavam; rebeldes sem causa se vendiam... Enquanto os cães ladravam a caravana passava...

 Certa vez desceu um caipora do Bujára, insatisfeito com uma passada de perna de uma certa dama de São Luís... Prometera ela pedir votos para congressista amigo seu e na hora H confabulava com um pretendente ao congresso, da capital... Sinhozinho Malta, como era conhecido, não aguentou, tinha que tomar-lhe a ‘Prefetura’ pra mostrar àquela vil senhora quem mandava na região. Foram dias de loucura e prazer... Não tendo a quem recorrer, pois não queria deixar o Congresso, apelou para sua esposa Doralice da Conceição.
 – Dodô, como se referia a ela, vucê ten que sê prefeta de Acará, lá rola munto dinheiru, mia fia.
 - Non, istu munto da satisfeita cum puvo du Bujáru. Non pretendu dexá mil Cariri.
 - Nha fia, olhi, vu lhi sortá muntu dinheru, i tu vai ganha leçon...
 - Non adianta non... O cabuco di lá já tem seus nomi... E patati, patatá...
 - A genti compra os cabucos de lá e iu vu sê maridu da prefeta... he-he-he...
 - Non sê... Tu arruma mermo?
 - Arrumu cum a Dirma.

 Todos achavam uma aventura inglória... Se o povo tivesse que mudar de opinião, já seria a hora de José Junior, outrora Conde do Piracatinga, descendente de uma linhagem real que governara o Acará por várias gerações... Compraram o pretenso candidato do PG (Partido dos Guaiamus) que aceitara uma carreira no parlamento municipal em troca da promessa de apoio na campanha. Já fizer isso uma vez, poderia dar certo de novo. Decerto, não tinha um tostão furado para investir em tamanha empreitada. Fizeram casas encavaladas nas outras casa, chamaram a velha guarda da ‘mangueira’, jogaram muitas pedras na cruzes que apareciam na estrada...

 Mas não deu não. Maria Henriqueta passou pelo meio e o máximo que conseguiram foi entrar divididos na campanha. Marieta ainda desdenhou:
 - U qui fui qui iu falê, u qui fui qui iu falê... Vorti já pro Bujáru i non pize mazaqui... E blá-blá-blá, blá-blá-blá, blá-blá-blá...

 A vingança é perda de tempo. Enquanto você perde tempo com a vingança, você deveria tá desenvolvendo outro trabalho lá na frente. Quem sabe a união daqueles basbaques não tivesse feito o povo acreditar que uma mudança se fazia necessária e a vitória era dada com certa. Como afirma Cazuza: “Eu vejo o futuro repetir o passado/Eu vejo um museu de grandes novidades”... Porque “o tempo não pára.../Não pára...”. É claro que a desculpa da vingança era pra encurtar o caminho para o trono... E sempre que você planeja a mudança tem sempre um querendo te ganhar: “Não vota certo agora, deixa pra ti votar certo na próxima eleição” - só que a próxima nunca chega.

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